Trabalho tem patrocínio da plataforma Natura Musical
O projeto de música eletrônica ATR, baseado em São Carlos (SP), lançou o disco Mundi no ano passado em parceria com a Natura Musical, Let’s Gig e Altafonte e agora divulga o EP Mundi (remix) com seis versões remixadas por BADSISTA, DJ Nyack, Chico Correa, Malka, STRR e Érica. Ouça aqui.
A ideia de ter músicas remixadas por DJ’s e produtores musicais já era antiga da banda formada por Gustavo Koshikumo (guitarra), Juliano Parreira (baixo) e Eduardo Porto (bateria): “No início da nossa carreira tivemos a experiência de um remix de uma faixa do nosso disco Kadmirra. A música Sex Suggestion foi remixada por Buguinha Dub. Desde então sempre quisemos repetir essa ação, e a oportunidade veio agora”, comenta Eduardo. E Juliano completa: “sempre foi uma vontade nossa ouvir nossas músicas nas mãos de outras pessoas e os caminhos que elas poderiam tomar”.
E, uma vez que os shows que estavam previstos no edital não foram possíveis de serem realizados, o trio viu esse desejo se tornar realidade. Para tanto, eles selecionaram nomes que já acompanhavam e admiravam: “Com o Chico Correa, Érica e a Malka já nos encontramos em inúmeros festivais e feiras de música, o Strr conhecemos nas nossas circulações por Belém, a BADSISTA e o Nyack também foram encontros na estrada e pesquisando pelos trabalhos deles. E escolhemos as faixas que acreditávamos que tinham mais a cara de cada um”, comenta Juliano.
Originalmente, Mundi propõe um mergulho estético que explora o vasto universo da música eletrônica e pop, sonoridades presentes nos últimos trabalhos do grupo, junto à contribuição das particularidades musicais e vocais de cada artista convidado, com o intuito de conduzir o ouvinte a diferentes lugares do globo, passando por distintos contextos sociais, políticos e culturais que têm na música o ponto comum de conexão.
Faixa a Faixa
O EP começa com In My Stereo, remixada pelo produtor paraense STRR, uma das grandes apostas da nova geração da cena eletrônica. “Comecei o remix recortando uma frase da voz que me chamou atenção pela melodia, acho que diz “looking up the stars, I say no”. A partir disso criei as baterias do verso e fui fazendo as camadas dos sintetizadores, em que parte deles aconteceu dentro do computador e a outra foi no meu Korg Minilogue, sintetizador analogico. Acredito que a única faixa que usei da música original foi a voz e um arpejo de sintetizador, de resto decidi recriar todos os elementos pra dar a minha interpretação pra faixa. Foi um processo muito divertido”, lembra.
Com influências que vão de SOPHIE à última mixtape do Flume (Hi This is Flume), a faixa mergulha nos estilos future bass e glitch hop. Originalmente, a composição tem a participação da cantora e guitarrista argentina Michu, conhecida por seu trabalho com os projetos Petit Mort, duo Muñoz, Antivibe e Mandale Mecha.
Na sequência vem Corazón, que também é uma parceria com a argentina Michu, letrista e vocalista da canção. A faixa, que foi lançada como single do EP, traz BADSISTA como produtora. A artista, um dos principais nomes da música eletrônica brasileira, reconhecida internacionalmente, inclusive, trouxe toda a sua bagagem com fortes influências do GQOM, gênero de EDM originário da África do Sul conhecido pelas batidas que possuem um som minimalista e repetitivo, com graves pesados. Além disso, elementos da eletrônica, house e vogue music, principalmente, embalam o som que traz nas referências MikeQ, LSDXOXO e Uniiqu3. “A música original já vinha com camadas muito interessantes então foi basicamente ambientá-las numa noite de Ballroom”, comenta BADSISTA.
Já o remix de Qué tá Mirando? tem a assinatura de Chico Correa, DJ e produtor musical paraibano, que já participou de alguns projetos musicais, incluindo o Baiana System. Intensa e dançante, a faixa é um recado franco da cantora dominicana Carolina Camacho. Construída com beats e loops eletrônicos, além de elementos orgânicos como cítara, flauta e percussão, a música traz versos de batalha e reforça temas como luta, resistência e proteção. A junção do flow caribenho e da postura incisiva de Carolina com a estética eletrônica da banda entrega uma faixa pronta para animar qualquer festa. Chico mergulhou nos gêneros House music, Dance music, Afro House para remixar a faixa: “Decompus alguns elementos da versão original, decidi manter o mesmo BPM para valorizar a voz, a partir daí construí novas camadas de texturas de sintetizadores, percussões e efeitos nas vozes. Apesar do groove principal vir do Kick e Snare, inseri levadas percussivas brasileiras, como timbaus, congas, caixa de maracatu, caxixis o que caracteriza minha forma de produzir”, diz Chico.
Nyack, parceiro de Emicida e um dos nomes mais respeitados da cena hip hop/eletrônica, é o responsável pela versão de Batom, canção que conta com a participação da cantora e compositora baiana Luedji Luna. Como referência para guiá-lo na produção da faixa, Nyack se baseou nos artistas nigerianos Burna Boy, Wizkid e Davido. “O processo foi muito massa, eu quis manter a essência da música original e trazer ela mais “pra pista”, deixando ela um pouco mais rápida e com outros elementos musicais, fiquei muito feliz com o resultado.”
No Diskriminasyon é a faixa que vem em seguida assinada pela DJ, multiinstrumentista e produtora musical, Malka, que já trabalhou com nomes como Céu, Luisa e os Alquimistas, Rayna Russom (LCD Soundsystem), Letrux, Marina Lima e Otto. A intenção do trio nessa faixa era se conectar mais com a música africana e trabalhar a marcação do gênero Afrohouse e Malka levou a faixa para uma sonoridade Techno/Tech-house em um remix com mais de 10 minutos com uma construção muito envolvente. No diskriminasyon tem a colaboração do haitiano Vox Sambou, que já tocou com artistas como o rapper Mos Def e a banda Antibalas, também é reconhecido pela sua mistura de rap com afrobeat, grooves latinos e batidas de reggae, além de ser um letrista habilidoso, enérgico e perspicaz.
Já a faixa-título do disco, Mundi, tem a assinatura da cantora, produtora musical, tecladista e DJ do Rio de Janeiro, Érica, que conta que mergulhou nas referências que vão de The Mars Volta a Ney Matogrosso: “Ouvi os stems e fui eliminando os elementos da música, deixando apenas o groove. Criei uma beat bem quebrada ao vivo, tocando na mão, sincronizando e editando. Depois criei o bass, bastante influenciado pelo electro e o synth com timbre de cordas, influência do disco. O clarinete curti tocar num estilo free jazz, como nos saxofones de The Mars Volta, James Chance e John Lurie do Lounge Lizards. Gravei a guitarra no estilo Arto Lindsay, da mesma banda do John Lurie, mas sem pesar na distorção. Depois de feito o arranjo instrumental senti que uma letra iria ornar bem, por ser a única faixa do álbum sem vocal. Fiquei pensando nesse conceito ‘Mundi’ e fiquei com a música ‘O Mundo’, do Karnak, na versão de Ney Matogrosso e Pedro Luis e a Parede. Esse jeito do Ney de cantar me pareceu muito natural, e foi saindo essa letra meio que ambígua, sobre o mundo, o papel de um Deus falho, e onde inserir uma fé sem um aparente apoio divino. A mixagem do vocal foi um desafio, pois estou acostumada a mixar vocal bem dentro da mix, mas eu queria um toque “MPB” na coisa, e saí da minha zona de conforto, colocando o vocal mais na frente”.
O projeto Mundi, que engloba o álbum e o EP de remixes, foi selecionado pelo programa Natura Musical, através do Edital, ao lado de nomes como Linn da Quebrada, Bia Ferreira, Juçara Marçal, Kunumi MC, Rico Dalasam. Ao longo de 16 anos, Natura Musical já ofereceu recursos para mais de 140 projetos no âmbito nacional, como Lia de Itamaracá, Mariana Aydar, Jards Macalé e Elza Soares.
“Nós acreditamos no impacto transformador que a música pode ter no mundo. E os artistas, bandas e projetos de fomento à cena selecionados pelo edital Natura Musical têm essa potência de mobilizar o público na construção de um mundo com mais diversidade, equidade e igualdade social”.
Fernanda Paiva, Head of Global Cultural Branding